Maria Homem: “As pessoas estão cada vez mais solitárias”
Revista Cláudia - 3 dez 2016, 09h00
Um dos seus temas é a dor no amor. Por que dói?
Maria Homem: Sobretudo porque idealizamos uma coisa e vivemos outra. Existe um descompasso na forma como levamos as relações afetivas. Exigimos muito do outro. E, na atualidade, isso é agravado pelas transformações dos lugares sociais, psíquicos e econômicos ocupados por homens e mulheres. Há também o deslocamento das ideias de gênero e sexualidade. Ou seja, além do velho embate platônico, entre o ideal e o real, temos agora múltiplas situações que interferem na engenharia dos afetos. Por fim, não esqueçamos, estamos imersos numa lógica profundamente consumista: Narciso se entedia com o objeto de amor e já deseja o seguinte.
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Você afirma: “Busca-se a felicidade e encontra-se a depressão”. Por quê?
A busca deveria ser pautada em: “Como podemos, juntos, criar formas mais ricas e simples de viver?” Por que a gente está escapando da pergunta: “O que é interessante para mim e para o coletivo?” Permanecemos no binômio simplista, infantilizado e maníaco-depressivo. Ele alterna euforia – muito artificialismo em uma alegria bombada, festiva, de entretenimento – e depressão. Essa felicidade é oca. A clínica revela que não está funcionando e, por isso, a pessoa cai no oposto. Depressão não significa melancolia criativa. Ela é nada. E também uma doença que pode paralisar.
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