domingo, 6 de março de 2011

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira
"já havia me acontecido várias vezes no coração da noite (e a noite, neste caso, não demonstra realmente ter coração), aconteceu-me de sentir no escuro, no silêncio, uma estranha sensação de espanto, um estranho embaraço ao lembrar de algo feito durante o dia, no claro, meio sem querer. perguntei-me então se as cores, a visão das coisas em voltas, os diversos ruídos da vida não ajudariam a determinar nossas ações. sim, sem dúvida, e quem sabe quantas outras coisas! nós não vivemos, como diz o senhor anselmo, em constante relação com o universo? vejam só quantas tolices esse maldito universo nos faz cometer, tolices que depois atribuímos à nossa pobre consciência influenciada por forças externas, ofuscadas por uma luz que está fora dela. por outro lado, quantas decisões tomadas, quantos planos arquitetados, quantos expedientes engendrados durante a noite não se revelam inúteis, desmoronam e viram fumaça à luz do dia? como o dia é uma coisa e a noite outra, talvez sejamos também uma coisa de dia e outra de noite: miseráveis, ai de nós, tanto de noite como de dia."

falecido mattia pascal
"dentro de nós, cada objeto costuma se transformar de acordo com as imagens que suscita e agrupa, por assim dizer, ao redor de si. claro que podemos gostar de um objeto por ele mesmo, pelas muitas sensações agradáveis que nos proporciona, numa percepção harmoniosa, mas é bem mais frequente que o prazer que um objeto nos causa não se encontre no objeto em si. a fantasia o embeleza, envolvendo-o e iluminando-o de imagens caras. nós não o percebemos mais como ele é, mas quase animado pelas imagens que cria em nós ou que os nossos hábitos lhe associam. no objeto, por fim, amamos o que colocamos de nós mesmos, o pacto, a harmonia que estabelecemos entre nós e ele, a alma que ele adquire somente para nós e que é construída das nossas recordações"

o falecido mattia pascal
Aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém. Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto. Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las. Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos.Que posso usar o meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando.

William Shakespeare