"já havia me acontecido várias vezes no coração da noite (e a noite, neste caso, não demonstra realmente ter coração), aconteceu-me de sentir no escuro, no silêncio, uma estranha sensação de espanto, um estranho embaraço ao lembrar de algo feito durante o dia, no claro, meio sem querer. perguntei-me então se as cores, a visão das coisas em voltas, os diversos ruídos da vida não ajudariam a determinar nossas ações. sim, sem dúvida, e quem sabe quantas outras coisas! nós não vivemos, como diz o senhor anselmo, em constante relação com o universo? vejam só quantas tolices esse maldito universo nos faz cometer, tolices que depois atribuímos à nossa pobre consciência influenciada por forças externas, ofuscadas por uma luz que está fora dela. por outro lado, quantas decisões tomadas, quantos planos arquitetados, quantos expedientes engendrados durante a noite não se revelam inúteis, desmoronam e viram fumaça à luz do dia? como o dia é uma coisa e a noite outra, talvez sejamos também uma coisa de dia e outra de noite: miseráveis, ai de nós, tanto de noite como de dia."
falecido mattia pascal
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