sexta-feira, 7 de setembro de 2012


Pobre velha música!
 
Pobre velha música!
 Não sei por que agrado, 
 Enche-se de lágrimas
 Meu olhar parado. Recordo outro ouvir-te,
 Não sei se te ouvi
 Nessa minha infância
 Que me lembra em ti.
 Com que ânsia tão raiva
 Quero aquele outrora!
 E eu era feliz? Não sei:
 Fui-o outrora agora.


Fernando Pessoa

terça-feira, 28 de agosto de 2012

"Até a mais brilhante e racional das pessoas, no calor da paixão, parece completamente divorciada da pessoa que ela pensou que fosse." 

Dan Ariely, professor de economia comportamental no MIT, nos EUA

domingo, 29 de julho de 2012

o espelho reflete certo; não erra porque não pensa.
pensar é essencialmente errar.
errar é essencialmente estar cego e surdo.

estas verdades não são perfeitas porque são ditas
e antes de ditas, pensadas:
mas no fundo o que está certo é elas negarem-se a si próprias
na negação oposta de afirmarem qualquer cousa.
a única afirmação é ser.
e só o afirmativo é o que não precisa de mim.

alberto caeiro - no dia brancamente nublado entristeço quase a medo

quinta-feira, 19 de julho de 2012

havia duas pessoas na platéia e uma delas dormia...
foi aí que o palhaço percebeu que ele não era ninguém.
um palhaço é uma platéia.

tiago castro gomes
I went into the desert to forget about you. But the sand was the color of your hair. The desert sky was the color of your eyes. There was nowhere I could go that wouldn’t be you.

Into the Sands - Jeffery Eugenides 

segunda-feira, 16 de julho de 2012

já faz uma semana que não a vejo, mas a presença dela permanece como se ela estivesse aqui, deitada ao meu lado e tomando para si todo o espaço da cama. tento distrair-me em vão: os minutos ociosos sempre existirão para nos destruir e nos lembrar que, no fundo, não temos total controle sobre nós mesmos.

tiago castro gomes
o Kramer apaixonou-se por uma corista que se chamava Olga. por algum motivo nunca conseguiam encontrar-se. ele gritava passando pela casa de Olga, manhãzinha (ela dormia): Olga, Olga, hoje estou de folga! mas nunca se viam e penso que ele sabia que se efetivamente se deitasse com ela o sonho terminaria. sábio Kramer. nunca mais o vi. há sonhos que devem permanecer nas gavetas, nos cofres, trancados até o nosso fim. e por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira.


Hilda Hilst - Estar sendo. Ter sido.

terça-feira, 10 de julho de 2012

O sonhador, para o definir pormenorizadamente, não é um homem, é uma espécie de criatura do gênero neutro. Aloja-se, na maior parte do tempo, num inacessível refúgio, como se pretendesse até ocultar-se da luz do dia, e, uma vez encolhido na sua toca, metido na sua casota como o caracol, ou pelo menos parece-se muito, neste aspecto, com esse curioso bichinho que é simultaneamente um animal e uma casa e que se chama tartaruga.

Na sua opinião, por que razão gostará ele tanto das suas quatro paredes, monotonamente pintadas de verde, sujas, tristes e enegrecidas pelo fumo do tabaco? Por que razão esse ridículo sujeito, quando algum dos seus raros conhecimentos o vem visitar (e ele procede de tal modo que, a pouco e pouco, os seus amigos acabam todos por desaparecer), por que razão esse homem acolhe o visitante com tal embaraço com um rosto de tal modo perturbado e tão confuso como se acabasse de cometer um crime, ali, entre as suas quatro paredes, como se fosse apanhado a fabricar notas falsas ou a escrever versinhos para enviar a qualquer revista com uma carta anônima, dizendo que o verdadeiro poeta morreu e que um seu amigo considera como dever sagrado publicar a sua obra? Por que razão, diga-me, Nastenka, a conversa se estabelece com tanta dificuldade entre estes dois interlocutores?

Porque motivo não se soltam gargalhadas e não se troca qualquer palavra espirituosa com este amigo surgido de improviso, o qual em qualquer outra circunstância tanto gosta das gargalhadas e das palavras espirituosas, dos discursos sobre o belo sexo e sobre outros assuntos agradáveis? Por que razão, em suma, este amigo, por certo um conhecimento de fresca data, logo à primeira visita — porque, em casos destes, não haverá uma segunda visita —, por que razão o próprio visitante se sente tão perturbado e frio, com o seu espírito (isto se alguma vez o teve) embotado, ao ver o rosto transtornado do seu anfitrião, o qual, por seu turno, está agora completamente destituído do seu derradeiro grão de sensatez, após ter feito esforços gigantescos, mas vãos, para remover as dificuldades da conversa e para a tomar agradável, mostrando a sua experiência da sociedade, falando também sobre o belo sexo e, pelo menos através desta concessão, tentar ajudar aquele pobre diabo caído por engano em sua casa? Por que razão, ainda, o visitante agarra de repente no chapéu e se retira rapidamente, lembrando-se de súbito de um assunto absolutamente inadiável, que nunca existiu, e liberta de qualquer maneira a mão do caloroso aperto do anfitrião, empenhado agora em manifestar o seu pesar e a ganhar o tempo perdido?

Dostoiévski - Noites Brancas
“La memoria es individual. Nosotros estamos hechos, En buena parte, de nuestra memoria. Esta memoria está hecha, En buena parte, de olvido”.

 J. L. Borges (1979)- El tiempo

domingo, 17 de junho de 2012

17-6-2012 - GÊMEOS Quanto mais você oferecer do melhor que houver em sua alma, mais haverá para ser oferecido e a prosperidade tão ardentemente desejada e pouco acontecida brilhará como nunca antes terá brilhado. Experimente.

 horóscopo no dia do meu aniversário

segunda-feira, 16 de abril de 2012

exílio

vou voltar pro exílio
ele está dentro de mim
e se chama
"longe de você"

tiago castro gomes
"este livro é sobre lolita; e, chegando agora à parte que (caso não se tivesse antecipado a mim um outro mártir da combustão interna) poderia intitular-se "dolores disparue", faria pouco sentido analisar os três anos vazios que se seguiram. conquanto seja indispensável registrar alguns pontos pertinentes, a impressão geral que desejo transmitir é a de uma porta lateral que se abre violentamente numa vida em pleno vôo, deixando entrar uma negra e retumbante golfada de tempo que abafa, com suas chicotadas de vento, o grito de catástrofe solitária"

lolita - vladimir nabokov

domingo, 29 de janeiro de 2012

"existe uma coisa maravilhosa na morte, como as coisas todas se fecham e as atitudes que você considerava vitais não são nem vagamente importantes. seu marido pode dar comida para as crianças, pode lidar com o forno novo, pode encontrar as salsichas na geladeira afinal. a reunião importante dele não era importante, nem um pouquinho. e alguém vai buscar as meninas na escola e levá-las de novo de manhã. sua filha mais velha consegue lembrar do inalador e a mais nova vai levar a roupa de ginástica, e é exatamente como você desconfiava: a maior parte das coisas que você faz são besteiras, besteiras totais, a maior parte do que se faz é só resmungar e choramingar e conduzir pessoas que tem preguiça até de amar você, até disso, quanto mais de encontrar os próprios sapatos debaixo da própria cama; pessoas que viram e acusam, gritando as vezes, porque você encontrou só um pé"

anne enright - o encontro

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

How I wish, how I wish you were here
We're just two lost souls
Swimming in a fish bowl,
Year after year,
Running over the same old ground.
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

pink floyd - wish you were here


:-)