I want to tell you a story about a story. And it's about the time I discovered that most adults have no idea what they're talking about and also that they had no problem saying whatever comes to mind. Wheter it's even vaguely true or not.
It was in the middle of the summer when I was twelve years old. And I was the kind of kid who was always showing off. I had seven brothers and sisters and I was always getting lost in the crowd. And I would do practically anything for attention.
So one day I was at the swimming pool and I decided to do a flip from the high board, the kind of dive when you're temporarily magically suspeded mid-air and everyone around the pool goes ''Wow! That's incredible! That's amazing!"
I'd never done a flip before. But I thought: How hard could it be? You just somersault and straighten out right before you hit the water.
So I did. But I missed the pool. And I landed (thwack!) on the concrete edge and broke my back.
I spent the next few weeks in traction in the children's ward at the hospital. For quite a while I couldn't move or talk. I was just sort of floating.
I was in the same unit with the kids who'd been burned and they were hanging in these rotating slings, sort of like rotisseries or spits. These machines would turn you around and around so that the burns could be bathed in these cool liquids.
Then one day one of the doctors came to see me and told me that I wouldn't be able to walk again. And I remember thinking: This guy is crazy! I mean, is he even a doctor? Who knows?
Although I couldn't say that or anything else since I couldn't talk. But I was sure he had no idea what he was saying.
Of course I was going to walk. I just had to concentrate, keep trying to make contact with my feet. Convince them, will them to move.
The worst thing about this was the volunteers who came every afternoon to read to me. They'd lean over the bed and say "Hello, Laurie!!" really enunciating each word as if I'd also gone deaf.
And they'd open the book "So...where were we? Oh yes! The gray habbit was hopping down the road and guess where he went? Well, nobody knows! The farmer doesn't know. The farmer's wife doesn't know. The farmer's son doesn't know" and so on and so on.
Nobody knew where the habbit had gone but just about everybody seemed to care.
Now before this happened I'd been reading books like "Tale of Two Cities" and "Crime and Punishment" so the gray habbit stories were a kind of slow torture.
Anyway, eventually I did get on my feet and then for two years I wore a huge metal brace that was a sort of Frankenstein design. I was basically a freak and I got very obsessed with John F. Kennedy because he had back problems too and he was the president.
Much later in my life when someone would ask what my childhood was like sometimes I would tell them this story about the hospital and it was a short way of telling them certain things about myself - how I had learned not to trust certain people and how horrible it was to listen to long pointless stories like the one about the gray habbit. But there was also something weird about telling the same story that made me very uneasy, like something was missing.
Then one day when I was in the middle of it telling it - I was describing the little rotisseries that the kids were hanging in - and suddenly it was like I was back in the hospital just exactly the way it had been. And I remembered the missing part. It was the way the ward sounded at night. It was the sounds of all the children crying and screaming. It was the sounds that children make when they're dying.
And then I remembered the rest of it: the heavy smell of medicine, the smell of burned skin. How afraid I was. And the way some of the beds would be empty in the morning and the way the nurses would never talk about what had happened to these kids, they'd just go on making the beds and cleaning up around the ward.
And so the thing about this story was that actually I had only told the part about myself. And I'd forgotten the rest of it. I'd cleaned it up just like the nurses had.
And that's what I think is the creepiest thing about stories. You try to get to the point you're making, usually about yourself or something you learned. You get your story and you hold onto it and every time you tell it you forget it more.
THE GRAY HABBIT - Laurie Anderson
Eu quero contar a vocês a história de uma história. É sobre quando eu descobri que muitos adultos não têm ideia do que estão falando e também que eles não têm questão com dizer o que quer que venha à cabeça. Quer seja algo vagamente verdadeiro quer não.
Era no meio do verão e eu estava com 12 anos. Eu era o tipo de criança que está sempre querendo aparecer. Tinha sete irmãos e irmãs e sempre me perdia na multidão. Fazia praticamente qualquer coisa por um pouco de atenção.
Daí um dia eu estava na piscina e decidi dar um salto mortal do trampolim, o tipo de mergulho que, quando você está temporariamente, magicamente suspenso no ar, faz todos ficarem: “Uau! Que incrível! Que espantoso!”.
Eu nunca tinha dado um salto mortal antes. Mas pensei: “Qual a dificuldade? É só você dar uma cambalhota e se aprumar logo antes de atingir a água”. Então eu fui. Mas errei a piscina. Aterrisei (TCHBR-AQUE!) na borda de concreto e quebrei a coluna.
Os pares de semanas seguintes, passei em tração na ala infantil do hospital. Por um bocado de tempo não pude me mover ou falar. Ficava como que boiando apenas.
Eu estava na mesma unidade que as crianças que sofreram queimaduras e elas ficavam penduradas nessas tipoias rotatórias, um pouco como assadeiras ou espetos. As máquinas giravam cada um de um lado pro outro para que as queimaduras pudessem ser banhadas em líquidos frios.
Então, um dia, um dos médicos veio me ver e disse que eu não voltaria a andar. E me lembro de pensar: Esse cara está doido! Como assim, ele é mesmo um médico? Quem garante?
Ainda assim, não podia dizer isso nem qualquer outra coisa já que não conseguia falar. Mas eu tinha certeza de que ele não tinha ideia do que estava falando.
Claro que eu ia voltar a andar. Só tinha que me concentrar, continuar tentando fazer contato com meus pés. Convencê-los, fazer-lhes querer se movimentar.
O pior de tudo eram os voluntários que vinham toda a tarde ler para mim. Eles se inclinavam sobre a cama e diziam: “Olá, Lauriiie!!”, articulando muito cada palavra como se eu também tivesse ensurdecido. E eles abriam um livro. “Então… onde a gente parou? Ah, sim! O coelhinho cinza estava saltitando na estrada e adivinha aonde ele foi? Pois é, ninguém sabe!
O fazendeiro não sabe.
A mulher do fazendeiro não sabe.
O filho do fazendeiro não sabe”, e assim por diante.
Ninguém sabia aonde o coelho tinha ido, mas quase todo mundo parecia se importar.
Olha, antes disso acontecer, eu estava lendo livros como “Um Conto de Duas Cidades” e “Crime e Castigo”, então histórias de coelhinho cinza eram um tipo de tortura chinesa.
Afinal de contas, um dia eu consegui me pôr em pé de novo e então por dois anos eu usei um grande e metálico aparelho para coluna que tinha um design meio de Frankenstein. Basicamente, eu era uma anormal, e acabei muito obcecada com Jonh F. Kennedy porque ele também tinha problemas de coluna e era o presidente.
Muito depois na minha vida, quando alguém me perguntava como tinha sido minha infância, eu contava essa história sobre o hospital e funcionava como um atalho para dizer certas coisas sobre quem eu sou – como aprendi a não confiar em certas pessoas e o quão horrível era ouvir histórias compridas e sem sentido como aquela sobre o coelhinho cinza. Mas sempre havia algo estranho em contar essa história, eu ficava inquieta, como se alguma peça estivesse faltando.
Então um dia, quando eu estava no meio dela – contando – estava descrevendo as pequenas assadeiras em que as crianças ficavam penduradas – e de repente foi como se eu estivesse de volta ao hospital exatamente do jeito que tinha sido. E eu lembrei a parte que faltava. Era o modo como a ala infantil soava à noite. Os sons de todas as crianças chorando e berrando. Os sons que as crianças fazem quando morrem.
Daí eu lembrei todo o resto: o cheiro forte dos remédios, o cheiro de carne queimada. O modo como algumas camas amanheciam vazias e o modo como as enfermeiras nunca falavam do que tinha acontecido com essas crianças, elas simplesmente continuavam fazendo a cama e limpando o entorno da ala infantil do hospital.
E daí que o que importa na história é que eu contava a parte que falava de mim. E tinha me esquecido do resto. Eu limpei o entorno assim como as enfermeiras.
Isso é o que eu acho que seja a coisa mais perturbadora das histórias. Você tenta chegar ao que quer dizer, normalmente é sobre você ou alguma coisa que aprendeu. Você chega à sua história e se segura nela, e toda vez que você conta, se esquece dela mais.
domingo, 28 de julho de 2013
sábado, 22 de junho de 2013
sábado, 25 de maio de 2013
sexta-feira, 3 de maio de 2013
quinta-feira, 2 de maio de 2013
não aprendeu nada com a cigarra.
promete e vive uma completa fantasia.
que todo ano troca de casca.
que se dissolve na dura realidade.
somente possuindo nova proteção.
dissolvida deve ser esquecida.
como a casca abandonada.
escorrendo pelos ralos.
sendo pisada por gente apressada.
nas ruas da cidade.
por sapatos sujos.
lembranças e cigarras
promete e vive uma completa fantasia.
que todo ano troca de casca.
que se dissolve na dura realidade.
somente possuindo nova proteção.
dissolvida deve ser esquecida.
como a casca abandonada.
escorrendo pelos ralos.
sendo pisada por gente apressada.
nas ruas da cidade.
por sapatos sujos.
lembranças e cigarras
domingo, 28 de abril de 2013
"Chamava-se Pilar Ternera. Fizera parte do êxodo que culminou com a fundação de Macondo, arrastada pela sua família, para separá-la do homem que a tinha violado aos quatorze anos e que a continuara amando até os vinte e dois, mas que nunca se decidira a tornar pública a situação, porque tinha outro compromisso. Prometera segui-la até o fim do mundo, porém mais tarde, quando tivesse arrumado as coisas; e ela se cansou de esperar, identificando-o sempre com os homens altos e baixos, louros e morenos, que as cartas lhe prometiam pelos caminhos da terra e pelos caminhos do mar, para dentro de três dias, três meses ou três anos. Tinha perdido na espera a fôrça das coxas, a dureza dos seios, o hábito da ternura mas conservava intacta a loucura do coração"
Gabriel Garcia Marquez - Cem anos de solidão
Gabriel Garcia Marquez - Cem anos de solidão
segunda-feira, 22 de abril de 2013
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
"quando me aproximei deles para me despedir, percebi que a expressão de assombro tinha retornado ao rosto de Gatsby, como se uma leve dúvida tivesse surgido em sua mente, questionando aquele momento de felicidade. quase cinco anos! devia ter havido momentos mesmo naquela tarde, em que Daisy não correspondera totalmente a seus sonhos... não por culpa dela, mas devido à colossal vitalidade da ilusão que ele alimentara. uma idealização que havia crescido e se tornado maior do que ela, maior do que qualquer coisa no universo. ele se lançara dentro do sonho com paixão criadora, acrescentando detalhes todo o tempo, decorando-o com cada pluma brilhante que passava em seu caminho. não há intensidade de ardor ou de euforia que ossa desafiar aquilo que um ser humano é capaz de armazenar em seu fantasmagórico coração"
F. Scott Fitzgeral - O grande Gatsby
F. Scott Fitzgeral - O grande Gatsby
o rio de janeiro sem você faz pouco ou nenhum sentido.
fui aos lugares onde íamos para tentar encontrar algo de você, visualizar uma lembrança perdida na memória, capturar seu cheiro ou o som da sua voz. nesses lugares sua breve passagem anterior, tinha dado sentido ao tempo e ao espaço, impossibilitando consequentemente novas invenções.
então, teimosamente, fui aos lugares onde nunca fomos, mas estes tinham outro grande problema: não podia criar uma nova situação, visto que você sempre me pegava de surpresa em toda e qualquer circunstância. assim, não adiantava imaginá-lo naquela praia que nunca fomos, porque você poderia agir de tantas maneiras diferentes que não imaginar todas elas parecia injusto.
insatisfeito, resolvi ir embora.
e no caminho de volta pra casa adormeci, e então te encontrei. você não está em lugar algum, mas sim dentro de mim quando eu fecho os olhos e sonho.
"sorriu com compreensão, com muito mais do que compreensão. Era um desses raros sorriso que trazem em si algo de segurança e de conforto; ou desses sorriso que você encontra umas quatro ou cinco vezes em toda uma vida. Um sorriso que parecia encarar todo o mundo, a eternidade, e então se concentrava sobre você, transmitindo-lhe uma simpatia irresistível. Era um sorriso que o compreendia até o ponto em que você queria ser compreendido, acreditava em você como você gostaria de acreditar em si mesmo e lhe garantia que tinha de você a impressão mais favorável que você teria a esperança de comunicar"
F. Scott Fitzgerald - O grande Gatbsy
F. Scott Fitzgerald - O grande Gatbsy
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