"de qualquer forma, depois que haida sumiu, tsukuru percebeu nitidamente quanto esse amigo significava para ele, quão colorida ele tornava sua vida cotidiana. lembrou com saudades as várias conversas com haida, do riso dele, leve e tão característico. as músicas de que ele gostava, os livros que lia de vez em quando em voz alta, os comentários sobre acontecimentos da sociedade, o humor peculiar, as citações precisas, a comida que fazia, o café que preparava. tsukuru encontrava em vários lugares de sua vida cotidiana o vazio deixado por haida.
haide me proporcionou tudo isso, mas o que eu pude oferecer a ele? tsukuru não tinha como não pensar nisso. afinal, o que consegui deixar dentro dele?
no final das contas, talvez esteja mesmo destinado a ficar sozinho, tsukuru não conseguia deixar de pensar. as pessoas vêm até ele, mas depois de um tempo se vão. elas buscam algo dentro de tsukuru, mas não conseguem encontrar, ou mesmo encontrando não gostam, e parece que partem depois de desistir (decepcionadas, iradas). certo dia elas desaparecem de repente. sem explicação, sem se despedirem direito. como se cortassem bruscamente, com um grande machado afiado e mudo, o laço ainda circula sangue quente, que pulsa silenciosamente.
dentro de mim deve haver algo fundamental que decepciona as pessoas. "incolor tsukuru tazaki", ele disse em voz alta. no final das contas, eu provavelmente não tenho nada para oferecer aos outros. não, se eu analisar bem, talvez não possua nada para oferecer a mim mesmo"
haruki murakami - o incolor tsukuru tazaki e seus anos de peregrinação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário