"(...) o homem, quando sofre, concebe uma ideia toda especial do bem e do mal, ou seja, do bem que os outros deveriam lhe fazer e que ele exige, como se do próprio sofrimento nascesse um direito à compensação, e do mal que ele pode fazer aos outros, como se o sofrimento o autorizasse a proceder assim. E se os outros não lhe fazem o bem quase por obrigação, ele os acusa, e de todo o mal que faz quase que por direito, facilmente se desculpa."
O falecido Mattia Pascal - Luigi Pirandello
domingo, 20 de junho de 2010
"(...)eu pouco me importo com essa casca ordinária que me cobre, sabe? Ela me pesa, suporto-a porque sei que devo suportá-la. Mas se não me provarem que depois de aguentá-la por mais cinco ou seis ou dez anos, eu não terei pago de alguma forma toda essa chateação e que tudo acaba ali, eu a jogo fora hoje mesmo, neste exato momento. Como fica o instinto de conservação? Conservo-me apenas porque sinto que não pode acabar assim! Porém uma coisa é o indivíduo, outra a humanidade, como dizem. O indivíduo termina, a espécie continua sua evolução. Bela maneira de raciocinar, esta! Veja só! Como se a humanidade não fosse eu, não fosse o senhor e cada um de nós um todo. Todos nós temos o mesmo sentimento, ou seja, que seria a coisa mais absurda e mais terrível se tudo devesse se resumir a isso aqui, neste miserável sopro que é a vida terrena: cinquenta, ssesenta anos de tédio, de miséria, de fadigas pra quê? Para nada! Para a humanidade? Mas se até a humanidade um dia vai terminar? Pense um pouco: para que toda essa vida, todo esse progresso, toda essa evolução? Para nada? Mas o nada, o puro nada, dizem que não existe..."
O falecido Mattia Pascal - Luigi Pirandello
O falecido Mattia Pascal - Luigi Pirandello
sexta-feira, 18 de junho de 2010
"Dentro de nós, cada objeto costuma se transformar de acordo com as imagens que suscita e agrupa, por assim dizer, ao redor de si. Claro que podemos gostar de um objeto por ele mesmo, pelas muitas sensações agradáveis que nos proporciona, numa percepção harmoniosa, mas é bem mais frequente que o prazer que um objeto nos causa não se encontre no objeto em si. A fantasia o embeleza, envolvendo-o e iluminando-o de imagens caras. Nós não o percebemos mais como ele é, mas quase animado pelas imagens que cria em nós ou que os nossos hábitos lhe associam. No objeto, por fim, amamos o que colocamos de nós mesmos, o pacto, a harmonia que estabelecemos entre nós e ele, a alma que ele adquire somente para nós e que é constituída das nossas recordações"
O falecido Mattia Pascal - Luigi Pirandello
O falecido Mattia Pascal - Luigi Pirandello
domingo, 13 de junho de 2010
"O que no fundo quer dizer que nós, ainda hoje, acreditamos que a Lua esteja no céu exclusivamente para nos dar luz à noite, assim como o Sol durante o dia, e que as estrelas servem apenas para nos oferecer um maravilhoso espetáculo. Sem dúvida. E muitas vezes esquecemos de bom grado que somos átomos infinitesimais para podermos nos respeitar e admirar uns aos outros, e somos capazes de nos atracar por um pedacinho de terra ou nos lamentar por algumas coisas que, se estivéssemos realmente compenetrados do que somos, deveriam nos parecer insignificâncias sem tamanho"
O falecido Mattia Pascal - Luigi Pirandello
O falecido Mattia Pascal - Luigi Pirandello
sábado, 12 de junho de 2010
"A vaidade e o orgulho são coisas diferentes, embora as palavras sejam frequentemente usadas como sinônimos. Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho relaciona-se mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós."
Orgulho e preconceito - Jane Austen
Orgulho e preconceito - Jane Austen
"Oh tristeza! Da gameleira ou do ingazeiro, desce um canto, de repente, triste, triste que faz dó. É um sábia.
Bento Porfírio se inquieta:
_Eu não gosto desse passarinho!... Não gosto de violão... De nada que põe saudades na gente.
Inútil nos defendermos, Bento! A tristeza já veio, já caiu aqui perto de nós. Eu estou pensando...Talvez, num lugar que não conheço, aonde nunca irei, more alguém que está a minha espera. E que jamais verei, jamais..."
Minha Gente (Sagarana) - João Guimarães Rosa
Bento Porfírio se inquieta:
_Eu não gosto desse passarinho!... Não gosto de violão... De nada que põe saudades na gente.
Inútil nos defendermos, Bento! A tristeza já veio, já caiu aqui perto de nós. Eu estou pensando...Talvez, num lugar que não conheço, aonde nunca irei, more alguém que está a minha espera. E que jamais verei, jamais..."
Minha Gente (Sagarana) - João Guimarães Rosa
"Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripe estável. Essa terceira perna eu perdi. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma."
A terceira perna - Clarice Lispector
A terceira perna - Clarice Lispector
"(...) [O] triste cãozinho reuniu todas suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas. (...) Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.
Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura desse mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil. Deixe-o partir, assim humilhado, e tão digno, no entanto: como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era seu.
Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa, e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão."
Ilusões do mundo - Cecília Meireles
Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura desse mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil. Deixe-o partir, assim humilhado, e tão digno, no entanto: como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era seu.
Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa, e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão."
Ilusões do mundo - Cecília Meireles
"O sol está brilhante, o céu profundamente azul, sopra uma brisa deliciosa, e eu desejo _ ah, como desejo _ tudo! Falar, ter liberdade, amigos, poder estar só. E queria também...chorar! Sinto que estou a ponto de estourar e sei que se pudesse chorar, tudo havia de melhorar; mas não posso, vou de um quarto pra outro, aspiro com sofreguidão o ar que passa pela fresta de uma janela fechada (...) Comportar-me normalmente é um esforço. Sinto-me tremendamente confusa, não sei o que ler, o que escrever, o que fazer, só sei que sinto dentro de mim um anseio..."
O diário de Anne Frank
O diário de Anne Frank
"eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:
em que espelho ficou perdida a minha face?"
Retrato- Cecília Meireles
eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil:
em que espelho ficou perdida a minha face?"
Retrato- Cecília Meireles
"(...) até que tudo se transformou em não. tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. então a grande dança dos erros. o cerimonial das palavras desacertadas. ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que estava ali, no entanto. no entanto ele que estava ali. tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. tudo, tudo por não estarem distraídos"
Por não estarem distraídos- Clarice Lispector
Por não estarem distraídos- Clarice Lispector
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