Mais uma lembrança... O cheiro de suor, um odor que me fazia galopar, despertava meus anseios, me dominava...
Ao aguçar os ouvidos, percebo um som áspero, penoso, turvo, quase inaudível, que chega a amedrontar. Às vezes, uma corneta se mistura a ele, e vozes que cantam, simples, misteriosamente melancólicas, se aproximam. Puxo a mão da criada, vamos, rápido, apressando-a, envolto em seus braços, ansioso por chegar logo ao portão.
Eram as tropas militares que passavam em frente de casa, retornando do treinamento. Soldados gostam de crianças, e eu ficava sempre na expectativa de ganhar deles cartuchos vazios. Mas como minha avó me proibira de aceitá-los, dizendo que eram perigosos, a essa expectativa acrescia-se certa alegria furtiva. A marcha surda das botas pesadas, os uniformes sujos, as armas formando uma floresta sobre os ombros, eram suficientes para fascinar qualquer criança por completo. Porém, o que fazia com que me sentisse daquela maneira, motivando-me veladamente a querer ganhar os cartuchos, era apenas o cheiro do suor dos soldados.
O suor dos soldados — um odor como a brisa do mar, como o ar da orla marítima, torrado da cor do ouro —, aquele cheiro golpeou minhas narinas e me embriagou. Talvez essa tenha sido minha primeira lembrança de um odor. É lógico que não havia aí nenhuma relação direta com prazeres sexuais, mas o cheiro do suor foi aos poucos despertando em mim o anseio tenaz e sensual por coisas como o destino dos soldados, a natureza trágica de sua profissão, suas mortes, os países distantes que vêem...
Tais imagens insólitas foram as primeiras coisas com que deparei em minha vida. Desde o início, erguiam-se diante de mim com perfeição magistral. Sem uma única falha. Anos depois, eu procuraria nelas a nascente dos meus atos e sentimentos, e novamente não lhes faltava nada.
Desde a infância, minha concepção de vida jamais divergiu da teoria agostiniana da predeterminação. Não foram poucas as vezes em que dúvidas fúteis me atormentaram, e continuam me atormentando, mas, considerando-as uma espécie de tentação ao pecado, permaneci inabalável em minhas posições determinísticas. Entregaram-me o que poderia chamar de cardápio completo das inquietudes de minha vida antes ainda que eu pudesse lê-lo. Bastava-me pendurar o guardanapo e me sentar à mesa. Até mesmo o fato de que estaria hoje escrevendo um livro inusitado como este já se encontrava ali, devidamente registrado, diante dos meus olhos desde o início.
Yukio Mishima - Confissões de uma máscara
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